Atenção, essa é uma tradução do artigo do SakugaBlog sobre o que aconteceu com a produção de Marchen Madchen.

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Os problemas da estrutura atual da indústria já são bem conhecidos e documentados, mas com o medo de perderem um emprego, já completamente desvalorizado, quem trabalha nessa área evita apontar dedos para pessoas ou empresa, justamente para não ficar "manchado" depois. Nessa conversa, pessoas muito próximas ao anime Märchen Mädchen, o projeto mais bagunçado e problemático do momento na TV, detalham um pouco do que acontece por trás das cenas desse caos. Por mais que você não esteja acompanhando a série, as dificuldades enfrentadas pela equipe é algo que vale a pena conhecer.
A história de Märchen Mädchen segue a mesma de muitos animes de hoje: uma série de TV com uma estratégia ousada com utilização de várias mídias de comunicação, mas sem os recursos necessários para sobreviver por conta própria. Acreditar que TODOS os animes são ferramentas promocionais é algo no mínimo leviano, mas é o intuito e a vontade de todos os produtores da indústria atual. Ao mesmo tempo, eles não conseguem trazer investimentos suficientes para esses projetos para garantir uma agenda ampla e recursos para o anime. A maioria dos animes de TV tem produções modestas, se diferenciando pelas habilidades individuais de seus artistas envolvidos. Esse também é o caso do caos Märchen Mädchen. De início, pareceu algo bem promissor, mas infelizmente, o show tem cavado cada vez mais o poço que parece sem fim.
Mas aonde as coisas começaram a dar errado? Todos sabem dos problemas que os animes sofrem, mas mesmo após a série ter sido interrompida por algumas semanas devido a problemas de qualidade, a animação continuou péssima. Apesar desses problemas não serem exclusividades desse título, a verdade é que podemos apontar alguns problemas específicos desde o seu conceito inicial. Os planos de transformar-lo num anime original de TV com um estratégia mix de mídia vem desde 2014, que contaria com a presença do popular ilustrador Kantoku, apoiado por um enredo escrito por Tomohiro Matsu de Mayoi Neko Overrun!. Naturalmente, essas ideias foram deixadas de lado em 2016, quando Tomohiro Matsu faleceu por conta de um câncer no fígado. Mesmo assim, o projeto foi retomado um ano depois, quando começaram a publicar as light novels baseadas em seus rascunhos, com a ajuda da StoryWorks, uma empresa fundada pelo próprio Matsu. Logo após, foi anunciado o anime. Se considerarmos que já se tratava de uma ideia antiga, e com uma equipe basicamente já convocada, a realização desse projeto parecia uma boa homenagem ao trabalho de Matsu, mas os problemas durante a pré produção já indicavam o que estaria por vir.
Os problemas que a equipe enfrentou nunca chegaram a ser um segredo guardado a sete chaves. Desde a transmissão, reclamações da equipe surgiam em redes sociais. Reclamações de agendas apertadas são algo comum, mas quando elas são acompanhadas pela falta de crédito aos artistas pela produção do anime, a situação fica ainda pior. A animação atingiu níveis ainda piores com a transmissão do episódio 9, que apresentou traços e fluidez assombrosos, mesmo após terem recebido duas semanas extras para produzi-lo. Pessoas envolvidas com o projeto decidiram se abrir, obviamente de forma anônima, já que elas servem a uma indústria dominada pela prática de freelance e rede de contatos. Se expor para "falar mal" é bem arriscado nesse universo, e é por isso que vemos abusos atrás de abusos, e ainda assim, nada é feito.
Essa fonte explica que o projeto estava em uma situação caótica desde o começo da produção.
"Desde o início até agora, quatro membros da produção já se demitiram".
Se engana se você acha que são só coisas mundanas. Há detalhes específicos revelados por essa fonte, como por exemplo, o episódio 6 que passou três vezes de mãos antes de ser transmitido. E foi só durante a transmissão do episódio 7, que finalmente encontraram um assistente de produção para lidar com a administração do episódio 9.
"Nenhum dos assistentes de produção, além de Kitamura, tinham alguma experiência com anime de TV".
Tenham em mente que assistentes de produção possuem, possivelmente, uma das funções mais estressantes da indústria. Imagine fazer isso pela primeira vez em uma série que já não tem muitas pernas para se manter. Quando perguntado sobre como essa situação desesperadora se iniciou, alguns dedos foram apontados:
"Apesar de eu não achar que Masaru Nagai (CEO do estúdio, produtor de animação e planejador da série) seja o único culpado, o maior problema está na Hoods Entertainment".
Acusações de salários baixíssimos (mesmo para a média da indústria) aliados com um projeto com poucos membros na equipe e totalmente acelerado, pode ter sido os fatores decisivos.
"Por volta do outono de 2017, nós já estávamos preocupados que pudéssemos ter impactos na transmissão, então Kitamura, como assistente de produção, jogou na mesa a ideia de terceirização, que foi imediatamente rejeitado pelo CEO por motivos financeiros. No fim de janeiro desse ano, o CEO finalmente aprovou a proposta, mas já era tarde demais, e nenhum estúdio queria se arriscar a aceitar a oferta. Mesmo depois disso, o CEO planejava continuar a entregar episódios incompletos para a transmissão, mas a distribuidora (NBC Universal) nos forçou a atrasar a entrega por duas semanas".
O fato deles terem conseguido uma pausa de duas semanas parece um sinal positivo, mas é claro que mesmo isso poderia dar errado.
"Por volta dos episódios 6-7, o fardo em cima do diretor da série, Shigeru Ueda, estava tão forte que ele decidiu se demitir após o episódio 8. Além disso, antes da data de entrega do episódio 8, nós perdemos todo o contato com a mesa de produção, então no fim das contas, acabamos gastando as duas semanas basicamente comentando sobre a situação de produção dos episódios restantes".
Talvez agora a gente compreenda porque, mesmo após esforço de parte da equipe e a pausa de duas semanas não tenham sido suficientes para melhorar a qualidade do anime.
As consequências disso para a equipe são devastadoras, como você deve imaginar, ao ponto dos empregados precisarem arriscar a própria saúde para manter o projeto vivo.
"Os problemas começaram desde o primeiro episódio, com a animação principal, que fora feita fora do estúdio, e precisava de muitos retoques. A qualidade dos desenhos do episódio 3 era tão baixa que os diretores do episódio precisaram corrigir tudo (o que acabou levando ao atraso de vários dias nos demais episódios). Até mesmo os storyboards daquele episódio estavam atrasados, e precisaram serem redesenhados por Hisashi Saito, já que o diretor original passou mal e seu assistente não possuia nenhuma experiência como diretor de episódio".
Até mesmo os problemas em relação a falta de crédito a equipe no anime tem origem nesses problemas de produção:
"À medida em que a produção ia ficando cada vez mais caótica, o episódio 7 acabou sendo transmitido sem antes consultar os membros do estúdio sobre os créditos (os animadores do estúdio estavam tão ocupados com o episódio 6 e 8 que ninguém estava disponível para atuar como diretor). Como resultado, Kiyoshi Tateishi (o único supervisor creditado pelo episódio 7) só corrigiu uns 20 cortes, o resto foi consertado pelos próprios animadores principais e feitos sem crédito, ou até mesmo, sem correção. Por fim, muitos dos problemas que enfrentamos poderiam ter sido resolvidos rapidamente se Masaru Nagai (produtor e CEO da Hoods) tivesse agido."
Os problemas estruturais da indústria são óbvios, mas nesse caso, o comportamento individual também afetou bastante. E geralmente, isso não é exposto na maioria dos casos.
Como estamos cansados de falar de problemas da indústria, artigos como esse, que revelam o por trás da cena de cada projeto, são importantes para mostrar que mesmo em uma estrutura completamente falida e doente como a indústria de anime, ainda há espaço para culpados evidentes e claros por um projeto. Apesar de que a situação de todos não vai mudar caso esses poucos indivíduos sejam removidos de suas funções, precisamos ter ciência de que eles existam para evitarmos que o que está acontecendo nos últimos anos, se torne aceitável. "Claro que a gente teve atrasos no planejamento e a equipe não teve tempo, mas fazer o quê, a indústria é assim mesmo." Ou então: "Nosso estúdio adoraria pagar mais como outros, mas não temos condições."
São frases como essa que precisamos garantir que não se tornem cada vez mais corriqueiras. Reconhecer os problemas que envolvem a indústria é o primeiro passo. Não deixá-las cair num estado de conformismo gradual, é o segundo.
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Hoss: explicando rapidamente, o pessoal do Sakuga Blog tem contatos com animadores, pessoas da indústria, eles conseguem conversar com essa galera da Indústria, por isso recomendo muito mais eles do que qualquer outro ''especialista'' sobre isso, não é só opinião de gringos como alguns falaram.
Hoss: explicando rapidamente, o pessoal do Sakuga Blog tem contatos com animadores, pessoas da indústria, eles conseguem conversar com essa galera da Indústria, por isso recomendo muito mais eles do que qualquer outro ''especialista'' sobre isso, não é só opinião de gringos como alguns falaram.
Artigo traduzido e adaptado.
Fonte: Você Sábia Animes
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